terça-feira, 22 de julho de 2014

Valerie - 1957

Gerd Oswald é o tipo de diretor que dificilmente vai ganhar algum dia uma retrospectiva em cineclube, ou um livro dedicado à sua filmografia. No entanto alguns dos seus filmes continuam resistindo, vivos, digamos assim, graças às reedições em DVDs, exibições em canais pagos e até refilmagens. Alemão de origem, fez carreira em Hollywood, como tantos outros emigrantes que saíram da Alemanha na época da segunda guerra .O currículo inclui 40 filmes, mas boa parte foram trabalhos para a TV, sendo apenas 13 longas para o cinema. Lembrando que ele foi assistente de feras como Kazan, Wilder, Stevens entre outros. O filme que relembro é habitualmente classificado como um western, o que a rigor não dá uma boa ideia do que seria. Estamos diante de um drama “noir” ambientando em alguma cidadezinha da fronteira logo após o fim da guerra da secessão. Dois nomes de peso encabeçam o elenco: Sterling Hayden, o gigante de “Johnny Guitar”, e a voluptuosa sueca Anita Ekberg, aqui fazendo sua estreia em Hollywood.  Ele é um ex-combatente na guerra, onde exercia a função de arrancar as confissões dos prisioneiros mediante tortura, e que na vida  civil se torna um pacato fazendeiro e é abençoado com um casamento com a linda e doce Valerie(Anita Ekberg). Mas, logo o inferno da guerra parece recomeçar, dessa vez, de outra maneira, igualmente cruel e insana.  O inicio espetacular dá o tom do filme: três cavaleiros chegam a uma casa, dois deles apeiam com as armas em punho ( um deles nosso herói), entram, ouvimos tiros e gritos, e apenas um deles sai ferido. O ex-soldado, aparentemente, matara a tiros  os pais de Valerie a deixara entre a vida e a morte. Desse ponto em diante o filme segue uma narrativa que privilegia três pontos de vista diferentes sobre os motivos que levaram ao desfecho sangrento tendo como eixo a figura ambígua, sensual , doce, malévola ou angelical ? – o espectador pode escolher – de Valerie. Um pouco à maneira de “Rashomon” de Kurosawa, que mostrava um episódio sob o ponto de vista de vários personagens. O que fascina e perturba no filme são os ingredientes que temperam a tragédia: masoquismo, sadismo, estupro e adultério. Temas raros nos tempos do Código Hayes e tratados no filme com assombrosa naturalidade para os padrões da época, só possíveis seguramente no universo do cinema B. A atriz sueca nunca foi uma grande atriz, e não consegue sustentar  as diferentes facetas  da personagem, e isso prejudica o filme sem dúvida. Mas ela estava linda, e numa mulher bonita perdoamos tudo, e não custa lembrar que um das tarefas do cinema é mostrar a beleza da mulher, parafraseando um diretor francês da nouvelle vague. O terceiro personagem de importância capital no filme é da do reverendo e ele é interpretado por Anthonyy Steel, marido na vida real de Anita Ekberg. Algum tempo depois o diretor voltaria a trabalhar com ela no igualmente interessante “Screaming Mimi”. Em suma, um filme, em que pese alguns defeitos, digno de nota. O filme pode ser conferido no you tube: https://www.youtube.com/watch?v=2OzNlMA7JGg