terça-feira, 5 de março de 2013

Symptoms - 1974

José Larraz é um diretor já conhecido pelos admiradores do cinema exploitation europeu, graças ao fabuloso e sexy “Vampyres”, que sinceramente não sei se ganhou edição em DVD no Brasil. Provavelmente não. De qualquer maneira este filme e outros da sua filmografia já mereceram resenhas nos blogs nacionais, e muitos são encontráveis sem dificuldades em sites de compartilhamento ou no Youtube. Já lembrei que este último tem se revelado uma ótima fonte de filmes raros e obscuros. Tenho me surpreendido com certos filmes que pesquei no canal. O conselho é que corram e peguem o que puderem, pois logo esta festa vai acabar, suponho. O filme que relembro não é mais badalados na filmografia, talvez por estar ainda inédito em dvd e só circular em edições piratas, todas provenientes de uma exibição em 1983 na TV Inglesa. Uma pena, porque é um dos melhores da filmografia do diretor, e muitos até o consideram tão bom quanto o citado "Vampyres". Com ele Larraz concorreu no Festival de Cannes em 1973, e dizem que Jack Nicholson, membro do júri na ocasião , declarou que o filme era uma obra-prima e merecia a Palma de Ouro. O fato é que isso não aconteceu e o diretor, decepcionado, ficaria três anos sem dirigir. Em entrevista Larraz se declarou antes de tudo um romântico e um apaixonado pelos “tebeos”,os quadrinhos espanhóis, aos quais se dedicou antes de entrar para o cinema. No início da década de 70 o diretor iria para a Inglaterra e realizaria quatro filmes para produtores locais. Curiosamente todos lançados no mesmo ano de 1974. Assim como em "Vampyres" temos duas mulheres, uma mansão isolada e um ambiente rural. Mas o que é sangue, sexo demoníaco e nudez no filme das vampiras lésbicas, é discrição, melancolia e uma sexualidade difusa e reprimida em “Symptoms”. Menos “Possessão” de Zulawski, mais para “Repulsa ao Sexo” de Polanski, com o qual, aliás, o filme de Larraz guarda algumas semelhanças, já apontadas em resenhas que li. Helen( interpretada com perfeição por Ângela Pleasense, filha do ator Donald Pleasense) regressa para sua casa no campo levando consigo uma amiga Anne(Lorna Heibrom). Leituras, música, passeios pelo bosque e de barco pelo lago, enfim, a paz absoluta e perfeita. Um furtivo beijo na boca, apenas, para o espanto de Anne, e nada mais. As noites de Helen, no entanto, passam a serem perturbadas por ruídos vindos do sótão, súbitas visões de uma mulher, Cora, uma amiga que desapareceu, e que provavelmente morreu afogada no lago, ou teria sido assassinada? Mas o que fica claro é que Helen, além de profundamente perturbada pela lembrança da amiga -e paixão sáfica certamente- , tem uma sexualidade reprimida e histérica. A atmosfera sombria e melancólica emoldura uma trama monocórdica, minimalista e ambígua onde fantasia e realidade se chocam e se confundem -, mas plena de tensões e pulsões prestes a explodirem. O resultado é uma pequena obra-prima de câmara como um quarteto de cordas ensaiando um concerto de desejos vulcânicos. Mas como foi dito por um crítico inglês o mistério não está na trama – que é quase óbvia –mas nas nuances e na textura da narrativa. Há que se ressaltar a excelente montagem, a cargo de Brian Smedley- Aston, responsável por “Performance” de Cammell e Roeg. O filme tem completo no Youtube.

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