sábado, 10 de novembro de 2012

La Llamada - 1965



Olhando uma lista de filmes participantes do festival de cinema fantástico  Sitges de 1968, dias atrás, me chamou a atenção  o nome desse filme, para mim desconhecido até então. Meu amigo Francisco Rocha, do ótimo blog My One Thousand Movies, está organizando uma excepcional retrospectiva do festival ano a ano e me disse que não conhecia  também esse filme, e não tendo- o  encontrando não pode inclui-lo. A minha busca parecia fadada ao fracasso, até que descobri no Cinemageddon uma versão do filme com o título inglês de “Sweet Sound of Death”, que poderia ser traduzido como o doce som da morte. Um título bem mais retórico e poético que o seco original espanhol, sem dúvida. Não se trata, no entanto de uma coprodução  Estados Unidos/ Espanha comum nos anos 60 e 70. Os distribuidores americanos compravam produções europeias  e até argentinas, por exemplo, obscuras, e depois as dublavam, trocavam os nomes originais dos atores, e lançavam como filmes americanos. A prática gerava, no entanto vários problemas e o pior deles - que ocorre nesse filme -, cortes  por razões de censura ou às vezes simplesmente por  metragem.  Foi o caso aqui: a edição americana foi cortada em 10 minutos, sem nenhuma razão lógica, e diálogos alterados.  Felizmente pouco depois obtive a versão com as cenas cortadas e os diálogos originais em espanhol graças ao velho e bom E-mule e pude enfim ter exata noção das qualidades do filme. Confesso que com os cortes o filme me decepcionara um pouco, principalmente nos momentos finais. E o corte de 10 minutos era justamente nesse ponto do filme. Vá lá entender a cabeça do distribuidor americano da época.  Um filme que logo após a exibição submergiu na obscuridade quase absoluta, sendo resgatado  há pouco tempo graças a alguns  cinéfilos espanhóis.  Um filme deslocado: o gênero terror teve grande voga no país, mas só a partir de final da década de sessenta e nos anos setenta, sobretudo  com o gigante Paul Naschy. O diretor Javier Setó, catalão, deixou 26 filmes  antes de falecer prematuramente em 1969 aos cinquenta anos. E sem lograr um reconhecimento da crítica. Produção que mesmo para os padrões locais foi de segunda linha: B, portanto. Para finalizar as filmagens o ator Emilio Gutierrez Caba, contou em entrevista que teve que emprestar dinheiro do próprio bolso aos produtores. O filme tem início e o espectador parece que estará  diante de  apenas outra história de influências neorrealistas ou do cinema inglês da época:  atmosfera de tons melancólicos  e lúgubres. Um casal apaixonado: Pablo (Emilio Gutierrez), estudante, e Dominique( a polonesa Danyk Zurakowska), francesa. O fantástico  só irrompe sutilmente após o telefonema que o rapaz recebe da amada. Ela tinha viajado  para a casa dos pais, na França, passar o natal. Um acidente de aviação  e o nome dela fora incluída lista de mortos. O reencontro após o telefonema e  ela lhe diz de maneira casual que estava morta. Claro, que ele recebe a notícia como uma brincadeira. Filmada em uma Madrid permanentemente envolta em brumas, espectral, refletindo o interior melancólico  dos personagens. À medida que a narrativa de  desenvolve mais e mais Pablo enreda-se em um universo paralelo, onde as fronteiras entre a vida e morte adquirem outra relevância e significado. Para os familiarizados com o cinema fantástico B dos anos sessenta é evidente a semelhança  com a obra-prima “Carnival of Souls” de 1962, do americano Herk Harvey. Claro, que apenas  coincidências, pois seria pouco provável que Setó tenha assistido ao filme americano. O fato é que trata-se de um filme que navegava contra a corrente dominante do gênero terror da época:basta lembrar nos filmes góticos italianos ou da Hammer. Daí seu eterno fascínio. Como eu já informei ele pode ser encontrado no E-Mule,basta alguma paciência. 

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