quinta-feira, 17 de maio de 2012

The Female Animal- 1958

Como acabei criando outra série, sem nenhuma intenção de cria-la, no caso a das despedidas vexatórias ou honrosas das divas de Hollywood, não poderia passar em branco o canto do cisne, dependendo do ponto de vista, da semideusa dos anos 30/40 Hedy Lamarr. Para muitos o rosto mais belo do cinema. Opinião difícil de contradizer. Teve a glória de ser o primeiro nu frontal do cinema: no clássico pré-exploitation “Ectasy”, com a antológica cena de orgasmo, que reza a lenda não foi simulada. Em Hollywood alguns destaques como o papel de Dalila na tranqueira bíblica de Cecil B.de Mille “Sansão e Dalila”, uma das melhores comédias de todos os tempos. E longe do universo do cinema, passou à história da ciência como inventora. Seguramente por trás do rosto divino havia um cérebro. O fim da vida foi algo bizarro: chegou a ser presa roubando lojas, como uma simples ladra. E o filme que comento acabaria sendo a sua despedida. No roteiro a assinatura de Albert Zugsmith, que foi personagem principal do meu último post. Produção da Universal. Direção de Harry Keller, subestimado e odiado por muitos, pois a pedido do produtor, novamente o nosso amigo Zugsmith ,refilmaria algumas cenas de “A Marca da Maldade” de Welles. Injusta fama: além do filme que relembro tem na filmografia um bom western: ”Quantez”. Estes elementos somados: Albert Zugsmith, que significa exploitation, mais Universal, que significa melodrama e mais Heddy Lamarr, uma estrela já no ocaso e cinquentona, só poderia gerar um filme, no mínimo fora do comum. A recepção crítica ao filme nunca foi das melhores. Ainda hoje se alguém se dispuser a consultor o IMDB verá que as opiniões são de maneira geral tendendo ao desprezo.
Hedy Lamarr nunca foi mesmo uma atriz fantástica para além da beleza fascinante, isso é verdade. Mas temos aqui um filme que prenunciaria as extravagâncias “camp” das décadas seguintes. Um filme que relembrei aqui, aliás, um dos últimos de outra diva, a atriz Lana Turner, lidava com uma trama vagamente similar: uma coroa atriz decadente e gigolôs predadores: “Love has many Faces”, filme igualmente esculhambado de maneira geral. Lá como aqui temos uma atriz famosa Vanessa Windsor (Lamarr), envelhecendo, e que é salva de um acidente no set de filmagens por um figurante. O salvador, interpretado por George Nader, cai nas graças da diva e é convidado a morar numa mansão que ela possuía a beira-mar. O moço passa boa parte do filme com o torso nu. Por um desses acasos cinematográficos ele acaba trombando na noite com a filha adotiva da atriz Penny (Jane Powell), uma barraqueira cachaceira e problemática. E para apimentar a trama até então restrita a intensos “amassos” entre a coroa ávida por sexo e o gigolô com consciência, nasce entre o rapaz e a mocinha o amor puro e verdadeiro que move as estrelas no céu. Mãe e filha disputando o garboso figurante, que em um acesso de consciência chega a aceitar “ estrelar” – de graça – uma produção B no México, só para fugir das garras da felina. O bom do filme é que ele foi escrito por alguém que entendia bem dos bastidores e assim sendo as piadas e alusões a fatos reais são constantes ao longo dele. E não esqueçamos que Zugsmith antes de ingressar no cinema foi jornalista. Se Hollywood teve uma virtude foi a de não se furtar a se autoexaminar ou autoparodiar. O filme aqui pode não se inscrever na lista das obras-primas dessa linha – que culminou com “Sunset Boulevard” de Billy Wilder – mas é digno de nota pelo que insinua e sugere no terreno da sexualidade explosiva e quase frenética do trio. Nesse sentido antecipa a sexploitation da década seguinte.

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