sábado, 14 de janeiro de 2012

Brucia, Ragazzo, Brucia - 1969

A década de sessenta foi de monstros saindo das tumbas, heróis mitológicos derrubando torres de papelão, existencialismo e tédio(cortesia de Antonioni ), delírios barrocos de Fellini e muito mais no cinema italiano: enquanto isso lá fora dos portões dos estúdios da Cinecittá o pau comeria solto até culminar com 68, que marcou o mundo e a arte. A burguesia e a geração italiana mais velha vinham sendo já sendo constantemente colocadas em cheque no cinema italiano, é verdade. Aqui mesmo comentei “La Calda Vita”, cujo cerne da trama era já o conflito. O paradigma dos filmes que retrataram o conflito de gerações foi “Teorema” de Pasolini, que exibido no festival de Veneza em 68, causou escândalo. E um ano depois Fernando di Leo, nome não tão incensado quando Pasolini irritava censura, igreja e burguesia italiana com este filme e imediatamente retido pela censura, por algum tempo. Era apenas o segundo filme do eclético e habilidoso diretor, que ganharia fama mesmo nos filmes policiais subsequentes, dramas eróticos, faroestes e giallos.

Á primeira vista mais um drama erótico, desculpa italiana esfarrapada para desnudar belas mulheres, embalado por bela trilha sonora. O conflito de gerações, a crítica á sociedade italiana vinha como pano de fundo da história de Clara(Françoise Prévost), uma madame italiana casada mas sexualmente histérica, que aluga uma casa à beira-mar. Leva a tiracolo uma cunhada, a filha ,e vez ou outra o marido passava por lá. Um jovem, salva-vidas da praia, anarquista, hippie e niilista, juntamente com a namorada, resolve fazer uns joguinhos psicológicos e sexuais com a mulher. “Uma típica família italiana, toda baseada na ordem, no hábito e na hipocrisia”, ele define bem o que é família de Clara. Ela acaba se deixando enredar nos jogos e cai nos braços do rapaz: tem seu primeiro orgasmo e é questionada em seus valores. Passo tão inesperado numa vida tão organizada vai significar o pagamento de um preço muito alto. E o fim é cruel e irônico: a ambulância levando seu corpo - depois de cometer suicídio com uma dose de barbitúricos- , e uma carreata de carros dos hippies que voltavam de uma festa na praia, se cruzando na estrada. O toque sinistro fica por conta do marido, que ao vê-la desacordada na cama, a deixa lá e vai dar uma voltinha na praia, aprecia a festinha dos hippies à distância e só depois telefona pedindo socorro, que já era tarde, evidentemente. Ao fim e ao cabo tudo terminava como em um filme de terror.O curioso título foi extraído da canção da abertura.

Um comentário:

Hilarius disse...

Olá, Fernando. Sim, gostaria de fazer parceria com teu blog. Gostei muito do teu blog, espero que ele tenha uma longa vida. Já add teu blog à minha lista.

Hilarius