quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Shanty Tramp- 1967


A exploitation americana dos anos sessenta nunca primou pelo apuro técnico ou o padrão de qualidade do seu primo rico de Hollywwod. Boas atuações, fotografia ou produção dificilmente são encontradas, à exceção talvez da obra de Russ Meyer. Apesar disso são nesses filmes vagabundos, precários e toscos que encontramos vitalidade, vibração e a dose certa de arrojo e loucura, ausentes do mainstream. Este filme de Joseph Prieto e produção do infame Gordon Murray é um exemplo cabal da afirmativa acima. Não traz bons atores, a produção é quase amadora. E mesmo com todos esses detalhes temos um filme insolente e sincero - ainda que saibamos que o interesse na feitura desse filme foi mesmo apelativo. O público alvo identificava-se com o drama retratado ali, o espectador se reconhecia. Não havia falsidade. O universo escroto e medíocre mostrado não era muito diferente do que ele encontrava na rua, ao apagar das luzes do cinema. Lee Holland, em sua única atuação no cinema, é Emily, a “shanty tramp” – gíria sulista para puta -, uma puta profissional, filha de um cachaceiro. Nenhum “glamour”, de uma garota de vida fácil retratada, por exemplo, em “Deus sabe quanto Amei” de MInelli. O cenário é uma cidadezinha do sul dos EUA, povoada pela fauna habitual de pastores picaretas, gangues de motoqueiros arruaceiros e racismo. E a nossa “heroína” vai aqui, vai ali, se oferecendo em troca de dinheiro é claro, mas buscando farra e prazer também, e por onde passa deflagrando caos e destruição. Ela é, por assim dizer, o rastilho de pólvora que faz explodir os piores instintos recalcados. Sexo e morte são o que a vagabunda oferece. O filme se desenrola em apenas uma longa noite de loucuras, a noite infinita das pequenas e semimortas cidades americanas. Um ano depois George Romero com a “A noite dos Mortos Vivos” desdobraria o panorama retratado aqui, acrescentando zumbis e terror.

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