quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Dias de Ódio(Emma Zunz) - 1953


Para aqueles que debatem adaptações cinematográficas de grandes obras da literatura eis aqui um bom motivo para polêmicas. Afinal de contas trata-se de uma adaptação de um conto de Jorge Luís Borges, “Emma Zunz”, que consta de “Aleph” , realizada pelo conterrâneo Leopoldo Torres Nilsson. A participação na elaboração do roteiro, pelo próprio escritor, não impediriam as discussões sobre o resultado final. Foi a primeira adaptação cinematográfica da obra borgiana. Esse conto mesmo já teve cinco adaptações. Lembremos que Borges, foi um apaixonado por cinema, além de críticas, escreveu ainda outro roteiro, em parceria com Bioy Casares, “Invasion” - que foi levado às telas por Hugo Santiago – e outros roteiros que ainda aguardam cineastas para levá-los ao écran demoníaco, para usar a expressão de Lotte Eisner. Para o diretor era seu primeiro filme. Até então a experiência era com assistências de direção para o pai, também diretor. A ideia da adaptação nasceu de um projeto do produtor e diretor Armando Bó – o pigmalião de Isabel Sarli – que propôs a Torres e outros diretores um filme em cinco episódios. Entusiasmado com a oportunidade o jovem diretor procurou o escritor, que ainda não era “O” Borges , mas tão somente conhecido em círculos literários argentinos, e lhe propôs a adaptação do conto. Borges então escreveu um roteiro para um filme de 25 minutos de metragem. O problema é que os diretores abandonaram a ideia do filme em episódios e sobrou apenas Torres. O jeito foi então aumentar o roteiro e adaptá-lo para um longa. Desse segundo processo o escritor não participaria: Torres Nilsson chamou uma roteirista para auxiliá-lo e aumentaram o roteiro. Talvez esteja ai a razão pelo desagrado que o escritor sempre manifestou pelo resultado final. Ele acreditava que era impossível acrescentar mais cenas ao roteiro que havia escrito. As maiores queixas foram com cenas que enfatizavam os aspectos sentimentais, que segundo ele contradiziam a história dura. Queixas borgianas à parte o diretor realizou em sua estreia um filme peculiar e original, e os defeitos que apresentou foram bem menores que as virtudes. O pessimismo irritou o peronismo vigente na época e o filme foi proibido de ser exibido fora do país. Mais que a história de uma vingança, Torres Nilsson enfatizou o elemento da solidão da personagem de Emma, pontuada e enfatizada com a paisagem urbana das ruas desoladas dos subúrbios de Buenos Aires. Aqui como nunca, a paisagem é parte integrante da trama, quase um personagem e reflete o interior de Emma e sua jornada desamparada. Essa característica anteciparia “A Aventura” de Antonioni, por exemplo. O uso criativo da trilha sonora e dos ruídos foi outro aspecto que demonstrava o talento do diretor. As suas obras seguintes definiram uma carreira que o colocaria como um dos maiores diretores argentinos de todos os tempos.

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