sábado, 8 de outubro de 2011

Kitten with a whipp -1964

Um filme que de certa maneira foi uma surpresa. Na cola dos filmes de delinquência juvenil invadiram o cinema desde meados da década de 50, mas vai um pouco além. O filme tergiversa, digamos assim, por vários gêneros: propositadamente ou não, o diretor Douglas Heyes vai modificando o tom e o clima da narrativa à medida que ele se desenrola. Num primeiro momento, após uma introdução frenética onde vemos uma jovem correndo sem rumo pela noite, parece que estamos diante de uma versão de “O pecado mora ao lado” ou quando muito “Lolita”. A situação é quase a mesma: temos o respeitável senhor de meia-idade, cuja família viajou, e a loira sexy e ambígua na malícia, que ele encontra ao despertar dormindo sossegadamente na cama da filha. A jovem Jody (Ann-Margret) é aquela mesma adolescente que vimos na introdução, e sugere agora mais uma versão teen de Marylin Monroe, apenas mais uma das muitas naquela época. O senhor é David (John Forsythe) um futuro candidato a senador, que se vê numa situação atraente, mas inconveniente para sua imagem e portanto, só lhe resta se livrar rapidamente da garota que sequer tinha roupas, trajava apenas um roupão. Um breve interlúdio cômico, onde o homem tem que entrar numa loja de roupas femininas e comprar um vestido, além de peças íntimas. O porém é que a cunhada abelhuda o surpreende e percebe que o vestido está aquém do tamanho da irmã, já que ela imaginou que fosse para ela. Despachada a garota, tudo parece voltar à vida normal. Num encontro com um amigo em um bar, enquanto beberica um drink, descobre, quando estava prestes a narrar a ele o episódio, no noticiário da TV do local, que a garota havia escapado de um reformatório, além de haver esfaqueado uma das funcionárias. E outra surpresa, a segunda daquele dia que será extremamente movimentado, para o bem e para o mal: a garota retornou à sua casa. Mas agora saímos do terreno da comédia sexy, para outro mais imprevisível. A garota ainda é sexy, mas não sugere mais inocência, e sim, algo perigoso e animal. E o futuro senador é arrastado para uma série de situações que nunca imaginara. Três amigos de Jody, dois rapazes- um tipo beatnik e outro mais agressivo, e uma garota - surgem e invadem a casa de David. Os rapazes obviamente dividem a garota, numa alusão involuntária ou não ao clássico da nouvelle-vague “Jules e Jim”, realizado dois anos antes. A noite vai se arrastar entre discos de jazz bebop, muita bebida e cigarros, acessos de violência e tentativas de estupro, discursos filosóficos niilistas, que supostamente os rebeldes sem causa daqueles anos deviam dizer, ou como assim Hollywood e a classe média americana imaginavam que eles falassem e agissem. Os beatniks ,os hippies (alguns anos depois), além dos comunistas, eram os pesadelos americanos naquele período. Agora o filme é suspense puro, ecos de Hitchcock e Orson Welles , na fotografia e na cenografia : os delinquentes arrastam David numa jornada alucinada até Tijuana no México( o filme se passa em San Diego) onde se consuma o caos quase apocalíptico.
Ann -Margret, no auge da beleza, confesso, foi a minha razão ,pela qual busquei esse filme, para mim até pouco tempo desconhecido, e sua atuação aqui é “over” e em alguns momentos camp, mas sempre sexy e sugerindo perigos fascinantes. Anjo por alguns instantes, e diabólica em outros momentos. O diretor Douglas Heyes, fez longa carreira em séries de TV anos 50 e 60, mas realizou poucos filmes para o cinema.

Algumas curiosidades extras sobre esse bom filme: as sequências em Tijuana, no motel onde se refugiam David e Jody, foram filmadas no mesmo cenário utilizado por Hitchcock em “Psicose”. Sim, eles se refugiam no Bates Motel.
O filme foi incluído em uma lista dos “ 100 Piores, mas Divertidos Filmes de Todos os Tempos" e reprisado no programa “ Mystery Science” ;o papa do trash dos anos 80/90 John Waters apresentou -o no “Anthology Film archives” : na ocasião confessou que viu o filme ainda garoto, ao lado do travesti Divine, sob o efeito de LSD. Sua definição do filme é curiosa: “Um Douglas Sirk sem direção”.

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