terça-feira, 18 de outubro de 2011

Kartal Yuvasi - 1974



Dona de uma cinematografia rica pela variedade de temas, a Turquia, chegou a ser a quinta maior produtora de filmes do mundo nos anos 70, com mais de 300 filmes por ano. Mas como ocorreu em muitos países, caso no Brasil também, a crise acabou com quase tudo e na década de 90, por exemplo, pouco mais de 10 filmes eram realizados. A partir de 2000 o cinema turco se reergueu e hoje é um dos mais fortes da Europa, com vários destaques pelo mundo.
Meu filme da vez, “Kartal Yuvasi” pertence ao período áureo da cinematografia turca, onde prosperavam além de filmes culturalmente relevantes, produções populares e apelativas. Os turcos não se importavam em copiar descaradamente sucessos americanos, e então fizeram versões bizarras de “O Exorcista”, Superman, Homem Aranha, Rambo e muitos outros. Esse aqui, dirigido por Natuk Baytan – que realizou 68 filmes – é tido como uma refilmagem de “Straw Dogs” de Sam Peckinpah, que no Brasil recebeu o título de “Sob O Domínio do Medo”. Alguns comentários pinçados de blogs gringos chegam a qualifica-lo como “cópia sem-vergonha”, que é francamente, um exagero. O certo que os filmes tem a mesma origem: o romance “The Siege of Trencher’s Farm” de Gordon Williams. Mas ambos diferem radicalmente. A trama do filme de Natuk Baytan é ambientada em Chipre, no período conturbado dos conflitos entre gregos e turcos, que resultaram na divisão da ilha. E justamente nesse fogo cruzado que o espectador é colocado. Murat retorna para a casa da mãe, a parteira local, trazendo consigo a noiva, uma inglesa. Nada era mais como antes, avisa a mãe- interpretada pela grande atriz Yildiz Kenter -, a maioria dos turcos abandonou a aldeia, só havia agora gregos. E um grupo deles, não estava nem pouco satisfeito e desejava expulsar os restantes. Um juiz grego e imparcial até tentava conter a turma, liderada por um grego sempre embriagado. Mas Eleni, uma garota filha do líder do grupo, mantinha uma amizade com um turco grandalhão e retardado. E a inglesa Mary ( interpretada por uma atriz turca) logo desperta a luxúria dos gregos pelas suas maneiras francas e sensuais, e acaba sendo estuprada por alguns deles. A morte de Eleni, imputada ao turco retardado, mas de fato cometido por um dos gregos do bando, desencadeia o conflito. Ao abrigar o suposto assassino, a parteira desperta a ira do bando e tem sua casa sitiada. Para piorar Murat estava ausente (e curiosamente, não dá mais as caras no filme) e a senhora e a nora tem que se desdobrarem para deterem a fúria cega dos gregos, que chegam a matar o juiz e compatriota que tentou detê-los. A violência vai ganhar aspectos de selvageria inaudita e garantem bons momentos de suspense tensão. Infelizmente já no finalzinho o diretor resolve colocar “footages” da invasão do exército turco a Chipre, além de sequências ufanistas em excesso. De qualquer maneira, o filme retrata – do lado turco, é claro – um pouco do drama da ilha naquele momento, resultando numa produção que merece uma conferida.

Nenhum comentário: