quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Strip-Tease- 1963

Certos filmes só fazem algum sentido hoje pela presença de algum ator ou personalidade que nele atuou. De outra maneira estariam confinados no limbo. O filme que lembro aqui está nessa categoria: ele só está ainda circulando por aí e é comentado, pela presença no seu elenco de Nico. Sim, ela mesma: imortalizada na música pop, por haver participado do primeiro e lendário discos do Velvet Underground, o conhecido disco da banana. Claro que ela foi muito além disso: a loura era doida, mas deixou uma discografia solo que eu particularmente aprecio muito. Seu trabalho no cinema já não teve muita divulgação. Muito pelo fato de que a deusa germânica ( ou húngara?) optou com coragem pela vanguarda. Meu filminho aqui de 1983 foi seu único trabalho como protagonista em uma produção comercial e mainstream. Afora isso, só filme com Andy Warhol e o namorado francês Philippe Garrel. Lembrando ainda que ela fez uma ponta no clássico “A Doce Vida” de Fellini. O título sugere algo na linha sexploitation, mas o filme passa longe disso: até porque naquela época a censura não permitia nada muito audacioso. De qualquer maneira os voyeurs são brindados com a beleza de Nico. Aqui ela ainda assinava como Krista Nico. Ela é Ariana, uma jovem que sonha em se tornar protagonista de uma Cia de ballet, mas logo no início esses sonhos são desfeitos quando anunciam que vão substituí-la por um nome mais conhecido. Sem rumo, acaba com relutância aceitando o convite de uma amiga para se tornar stripper em uma casa noturna. Tímida se recusa a tirar toda a roupa, no entanto esse paradoxo acaba tornando-a uma estrela da noite. Mas o trabalho vai trazer desilusões: o antigo namorado, ao saber da nova atividade a despreza e a trata como uma prostituta vulgar. Um novo amor nos braços de um milionário fútil e mimado, que logo revelará a ela esse lado, será outra desilusão. O título é uma metáfora sútil das ilusões que ela vai retirando uma a uma, até se desnudar inteira, e só fica então está pronta para enfrentar a vida, deixando os antigos sonhos jogados fora como peças de um traje de stripper. Essa é a verdadeira história do filme: um strip-tease dos sonhos. A direção de Jacques Poitrenaud, nome hoje esquecido, empresta à narrativa uma atmosfera cool e diáfana, aproveitando bem o jeitão frio e distante da futura cantora, que se revela uma boa atriz. O seu lado cantora infelizmente está ausente: seria sua estreia musical, já que a música tema foi gravada por ela para a trilha. Mas na última hora foi trocada por uma gravação de Juliette Greco. A canção foi composta por Serge Gainsbourg, que assina a trilha e ainda faz rápida aparição tocando piano com Big Joe Turner, outra presença ilustre no filme, no papel dele mesmo e confidente até final de Ariana. Como se vê, além da presença de Nico, esse pequeno, raro e bom filme têm outras boas razões para ser apreciado.

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